LICENÇA POÉTICA

Por volta dos meus 13 anos, eu fiz uma provinha de 7ª série sobre Língua Portuguesa. Após me preparar para realizar a avaliação, um interesse muito grande começou a se instalar em mim voltado principalmente para a Gramática e apesar de hoje já haver tomado conhecimento sobre outros idiomas, nenhuma estrutura linguística me chama tanta atenção como meu idioma nativo.

Porém, toda essa fascinação pela organização do Português foi confrontada com a realidade de que muitos escritores e compositores se valiam de um recurso muito empregado para, em nome da expressão ou da arte, para a métrica da música fechar ou para o verso rimar, de algum modo se desvincularem do que a norma culta padrão considera como correto, o que é entendido como licença poética… Complicou agora? Rsrs… é mais simples e mais comum do que aparenta, por exemplo, o Arnaldo Antunes, escreveu uma música que dizia “Beija eu”, do ponto de vista da norma padrão o correto seria “beije-me”.

É claro que havia uma explicação relacionada à história da música para isso não ser encarado como um erro de fato e o mais interessante disso tudo é que é muito frequente pessoas de um certo renome na Língua se enveredarem por esse caminho, pois, o que distingue a licença poética do erro de fato é fazer isso por opção e não por ignorância, ou seja, de quem se esperava o cumprimento das normas é quem torna-se “habilitado” para não cumprir. Isso não parece um pouco com outro aspecto da vida?

Há pessoas que não entendem a graça que recebem de Deus, estão anos na igreja e aparentemente são as mais indicadas para cumprir a lei, mas não cumprem porque não entendem que a graça que tomaram posse só tem valor em suas vidas quando as modifica, ou seja, elas falam de graça, elas pregam a graça mas não vivem a graça porque não foram transformadas por ela e assim são mais céticas que um ateu em seu dia-a-dia e como os peritos da Língua, usam essa graça de modo a justificar e promover seus erros,  em vez de modificar sua conduta.

Eu gosto da norma culta porque eu amo gramática, para mim, me comunicar segundo esses preceitos não é um absurdo porque eu considero que a riqueza do meu idioma está misso. É claro que isso é uma opinião pessoal sobre esse aspecto da língua porque na realidade, esse recurso é muito bem visto, mas,  esse desconforto só tem sentido pra mim porque eu amo Gramática e do mesmo modo, a graça só vai te modificar  e parar de ser uma “desculpa pra você errar na hora que você aprender a aceitá-la por amor, aí você vai até querer cumprir a lei, pois já dizia o salmista “quanto amo a tua lei”, e a lei é uma expressão  do caráter divino, nada mais que uma sistematização de seu amor…

Então, se eu amo a Deus e faço as coisas por amor vou cumprir rigorosamente a lei de cabo a rabo? Neste mundo não rsrs… Do mesmo modo que mesmo sendo amante de Gramática meus textos não são perfeitos nesse sentido, mas e os do Pasquale? Apesar de ser muito difícil, acho que se você vasculhar tudo o que ele produz vai encontrar um erro ou outro pelo fato de sermos humanos. O que nos diferencia do Pasquale?  O tempo de convivência com a Língua! E o que nos fará escrever melhor o poema da vida? A convivência com Cristo!

Pense, você pode até discordar da forma talvez um pouco avessa que eu vejo a licença poética e na língua ela pode realmente fazer muito sentido para muitas pessoas, mas quando essa perspectiva é aplicada à fé, ela é um pouco incoerente, não acha?

O objetivo do texto não é criticar a arte, a graça ou promover o legalismo… mas, trazer a você a motivação correta, o Espírito da lei (inspirado em Montesquieu hehe), que é o mesmo da graça: o amor!

Que possamos nos libertar de nossas desculpas, bem como nos desprender de exigências excessivas e caminhar nessa graça para sermos o que Deus sonhou para nós, mesmo caindo e errando às vezes, com a certeza de que estamos escrevendo a mais bela história a jornada da vida eterna!

 

– Thaysa Bessa

soboasnovas
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